Artista americano exibe imagens captadas durante a noite nos limites entre México e Estados Unidos, como as dos imigrantes ilegais tentando fugir do cerco policial
São Paulo -
Durante um ano e meio, o artista plástico norte-americano
Jordan Crandall fez da divisa entre San Diego, na Califórnia, e Tijuana,
no México, seu escritório de trabalho. Foi lá que ele capturou as imagens
que compõem a obra Heatseeking, último trabalho deste escritor,
artista e teórico de novas mídias, exposta a partir das 19h de hoje na
Galeria Baró Senna e simultaneamente em cartaz no Espaço Capacete, no
Rio de Janeiro.
Seis vídeos de 16 mm, com aproximadamente cinco minutos cada um, e o
mesmo número de trípticos com fotos congeladas de algumas cenas da fita
trazem o retrato do que acontece durante a noite naquele território. A
obra apresenta a tensão entre os imigrantes ilegais que querem cruzar a
fronteira sem despertar a atenção dos militares que a vigiam com a ajuda
de equipamentos detectores de presença humana da mais alta tecnologia.
É justamente por meio dessa parafernália que Crandall consegue capturar
o conflito existente no sentimento de ver e ser visto. Câmeras idênticas
às empregadas pelo aparato de trabalho dos militares - próprias para
inspeção e compostas por sistema de detecção infra-vermelho, por exemplo
- foram usadas pelo artista para fazer as imagens de Heatseeking.
Todas de impacto e livres da narrativa linear. Uma delas sugere a
similaridade entre todos os presentes no local. Intercala as imagens de
uma mulher nua se arrastando para cruzar a fronteira; outra na cama do
hospital com a barriga sendo cortada; a visão aérea da estrada que Tijuana
a San Diego; as faixas da rodovia da perspectiva de uma mulher; um casal
pelado sentado à beira do rio.
Mais do que o conflito entre os mexicanos aflitos para mudar de lado e
os policiais treinados para mantê-los longe de San Diego, o que Crandell
pretende é colocar em discussão o uso dos sofisticados aparelhos de
monitoramento espalhados pelas cidades. Segundo ele, ao mesmo tempo
necessários para um bom sistema de policimento e prejudiciais por
interferir na privacidade das pessoas.
"Quero abrir o debate sobre como isso reflete subjetivamente na vida
dos habitantes", diz Crandall, que está no Brasil para uma série de
três workshops para convidados no Museu de Arte Moderna de São Paulo
(MAM). "A questão é em torno da linha tênue que divide o público do
privado." O objetivo do artista, nascido em Detroit e editor de publicações
especializadas em tecnologias avançadas, como a revista Blast (http://www.blast.org/), é
se aprofundar no estudo dos efeitos psicológicos da presença de câmeras
no cotidiano do ser humano. "Sempre que nos sentimos observados temos
a tendência de nos intimidar", diz. "Devemos achar novas direções de
uso para tais ferramentas."
Exposição Heatseeking, Galeria Bardó Senna (Alameda Gabriel
Monteiro da Silva, 296, tel. 3061-9224). De segunda a sexta, das 11h às
19h; sábado, das 11h às 14h. Até 02 de março.
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